Despedir-se faz parte do nosso dia a dia.
Se nos aprofundarmos em análise, poderemos chegar à conclusão que a cada milésimo de segundo, nos despedimos do milésimo anterior.
Geralmente associamos a palavra despedida à uma idéia de negatividade, de dor, perda, etc.
Afinal, sempre dói pensar que despedir-se de algo ou alguém, trará um ponto final, ou, na melhor das hipóteses, um longe espaço de tempo ou distância do objeto, fato, ou pessoa.
Para esta vida, precisei me despedir de tantas coisas ou pessoas que sequer sou capaz de lembrar ou imaginar. Mas esqueçamos por hora o macro, esqueçamos os milésimos de segundos.
Quando resolvi escrever sobre isso, a inspiração veio pelos mesmos motivos de muitas outras vezes: raiva, dor, solidão, inconformidade, medo, etc. Seriam tantos os adjetivos que poderia citar, e todos amparados na necessidade de que temos de buscá-los.
Despedir-se da casa onde morava e acreditava ser seu castelo inviolável, dos amigos que considerava serem teus, do emprego a que se dedicava, ou que, na maioria das vezes, apenas suportava, e ainda assim não queria perde-lo.
Despedir-se de quem se foi. Daquela primeira, ou da décima pessoa a quem jurou amor e acreditava que a ti também jurava. Do sexo inigualável, dos momentos íntimos, dos cabelos que se vão, da juventude, daquele prato preferido que sua mãe preparava. Não são escolhas, ainda que tenha o poder de escolher mantê-los, cedo ou tarde você os perde.
As despedidas também estão presentes quando você decide que vai mudar sua vida, mudar seu endereço, seus amigos, parceiros, o trabalho. Quando tudo isso acontece sem que você o planeje ou pior ainda, o deseje.
Sempre temos de nos despedir. Faz parte do que chamamos de vida, de continuidade. E é estranho pensar nisso, pois a idéia de despedir-se, aparentemente contraria a de continuar.
Quem pode dizer friamente que em algum momento de sua vida, por mais ínfimo que tenha sido este, já não pensou em se despedir da vida?
São nossas escolhas, nossos bravos momentos de heróis ou meros covardes.
Escolhemos ou não nos despedir daquele aparelho de TV que compramos, na maioria das vezes com sacrifício, do carro, da casa, das pessoas. Mas guardamos aquele bilhetinho da primeira namorada ou, namorado. Para que um dia, depois de encaixotado por muito tempo, possamos nos despedir da poeira que o cercava, e busquemos uma lembrança de quem éramos. Rimos de nossos erros, daquele cabelo horrível de quando tínhamos 15 anos, da moda, dos discos, e nos despedimos felizes de tudo isso.
Há algum tempo me despedi de onde vivia, de amigos, pessoas amadas, parentes, trabalho, escrevi algo assim: “Leva-me vida, receba-me bem, trate-me com respeito e cuidado...”. E agora, mais uma vez, me jogo em uma nova busca.
Encontrava-me mais uma vez inerte sobre meu colchão duro, que dores me causam na coluna. Choroso, inconsistente. A idéia de mais uma vez encarar despedidas me causava certa ânsia.
Despedi-me do trabalho, com medo de deixá-lo. Da casa, e embora a placa de venda esteja exposta, o projeto me amedrontava, despedi-me, a contragosto devo dizer, de uma parceria bem apimentada de momentos de bom sexo, da afetividade. E então, despedi-me do medo de me despedir, resolvi levantar as mãos num aceno sutil como os de uma Miss. O medo deu lugar à ansiedade do novo, o turbilhão de pensamentos tortuosos quis ceder lugar para outros eufóricos, a idéia de me desfazer de bens materiais, outrora fatigante, agora se transforma em força e desejo que se faça logo. Uma nova idéia que surge do nada, assim como sempre são as melhores idéias, apontou-me para um outro ponto, ainda pequeno, cuja visão não pode ser apurada, apenas a mente pode criar.
E vou. Despeço-me deste momento, deste texto, e de você que acaba de lê-lo.
Afinal, não podemos parar. Levante sua mão e acene, ainda que o faça com o sorriso falso da Miss, mas tenha a certeza de que somente você pode fazê-lo. Até breve.
Anderson Matos
Abril 2010
2 comentários:
Fui lendo e entrando no seu texto tão real, tão lúcido, tão emocionante.Senti vc, me senti vc e me senti.Sensacional.
Linda a sua construção, e eu falando pra ti da dificuldade de me despedir e você já tinha até um texto sobre isso!
Um abraço
Vou te esperar com sua nuvem de balançar.
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