terça-feira, agosto 03, 2010

ALÉM DOS MUROS DO JARDIM DA CULTURA



Quando falamos em cultura, são tantas as vertentes, que acabamos nos deparando com um grandioso leque de possibilidades e expressões.
Falamos em cultura local ou nacional, e dizemos que este ou aquele fato é cultural. O Brasil é um país rico em cultura, seja ela de que expressão for, temos a cultura da fala com suas particularidades regionais, a gastronomia, os costumes locais, a influência estrangeira, a religiosidade, enfim, uma infinidade de situações ou expressões. Vejamos então o que significa Cultura: - Segundo a enciclopédia Wikipédia a palavra vem do latim “Cultura”. “São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço. Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. Explica e dá sentido à cosmologia social; É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período”.
Já segundo o dicionário do Aurélio, podemos usar alguns exemplos para definir o termo cultura, são eles: “criar; utilizar de certas produções; conjunto de conhecimentos adquiridos; a instrução, o saber, o conjunto de estruturas sociais, religiosas, etc.; as manifestações intelectuais, artísticas, etc.”.
Uma vez esclarecida sua origem, entendamos que definir como “nossa cultura” algo que nos seja próximo, exprime o conceito de posse. Melhor seria se nos dispuséssemos a pensar além dos “altos muros de nossos jardins”. Expressar-se culturalmente é mais que um direito, é um dever de cada um, pois somente assim podemos difundir e democratizar a arte e a cultura em todas as suas vertentes.
É bem comum ouvirmos em todas as partes do país que as regiões sul e sudeste são culturalmente mais evoluídas, e não seria errado concordar com isso, pois tal alegação se dá ao fato de que os meios de comunicação, assim como as diversas entidades ligadas à cultura, buscam melhor manifestar e divulgar suas expressões, sejam elas quais forem.
Errado sim seria considerarmos que o restante do país seria mais pobre culturalmente. Nas regiões Norte e Nordeste, são tantos e tão bons os autores, artistas, poetas, músicos, artesões, etc., além é claro, do folclore e datas tradicionais.
No entanto, não se trata apenas de romper as barreiras e entendermos mais o que se passa “além dos muros”. Primeiramente precisamos entender a apreciar o que temos à nossa volta. Somente assim poderemos: conhecer, comparar, discutir e acima de tudo, aprender sobre quem somos e o que culturalmente representamos. Infelizmente são tantos os entraves políticos ou de interesses pessoais, que a expressão cultural vai se extinguindo, e os talentos natos, pouco, ou nada desenvolvidos.
É cômodo e comum desviarmos nosso foco e atenção para essas dificuldades, no entanto cabe aqui uma reflexão: O que fazemos em prol do enriquecimento cultural?
Em vários pontos do país, percebe-se o esforço de agentes culturais e artistas diversos em manter e manifestar sua arte. Existem grupos que se organizam para pesquisar e desenvolver suas expressões, na maioria das vezes sem recursos financeiros ou qualquer tipo de apoio. Há que se considerar que as Leis de Incentivo nos âmbitos municipal, estadual e federal, têm sido de grande importância para as produções culturais. No entanto, percebe-se também que alguns grupos utilizam essa ferramenta como subsistência. Arrecada-se a verba, executa-se o trabalho e, uma vez cumprida a cota mínima estabelecida, parte-se para novos projetos. Nada há de incorreto ou ilegal nisso, porém os trabalhos apresentados não adquirem maturidade, e a pesquisa não se desenvolve.
Não existe uma sociedade sem cultura. Por mais que o capitalismo e a influência externa suprimam o exercício cultural, sempre haverá a origem de uma sociedade, as manifestações populares, as crendices e a religiosidade.
O exercício cultural ainda sofre uma grande influência externa, o que é bastante comum, porém deveríamos entender e valorizar não somente o que vem de fora, mas também nossas próprias raízes.
A função da cultura, além de manter vivos os valores e tradições de uma sociedade, é fazer com que estes sejam democratizados e acima de tudo, respeitados.
Interesses, críticas ou considerações pessoais são importantes, apesar de, na maioria das vezes traçamos críticas desfavoráveis sem nem mesmo conhecermos a origem e a história presentes. Em meio a esse turbilhão, muitos promovem de forma inconsciente ou até mesmo inconsequente, a desvalorização de qualquer tipo de manifestação artística.
A crítica é fundamental, mas deve ser embasada. Não se deve considerar crítica o que se apresenta por impressão pessoal. Saber ouvir é tão essencial quanto manifestar-se, sobretudo se o fazemos de forma leviana.
Curiosamente, enquanto escrevia este texto, tive a oportunidade de ouvir comentários bastante positivos e promissores sobre nosso país e cultura por parte de alguns estrangeiros (Pipa/RN), e a contragosto, outros tantos nada positivos por parte de alguns dos nossos.
Lamentavelmente, muitos “erguem seus muros” não cultivam as flores de seus jardins, e ainda não se permitem olhar adiante.
É necessário buscar a mudança. Lutar pela continuidade de nossas expressões artísticas e culturais, pois são elas nossas maiores riquezas. Mostremos ao mundo, por mais que ele nos feche os olhos e ouvidos, que existimos, e o façamos com a excelência e a sabedoria.
Acreditarmos em nós mesmos é o primeiro passo.

Anderson Matos.
Pipa, agosto de 2010.

Um comentário:

Arquimedes Diniz disse...

Achei muito lúcida suas colocações. Não sou nenhum entendido sobre o assunto cultura, não posso debater muito, mas concordo que o primeiro e legítimo passo é acreditar em si. Eu só tenho o blog porque acredito muito na minha verdade impressa nas poesias que escrevo. Parabéns pelo blog!